No dia a dia das operações de subscrição de uma seguradora há uma série de processos interconectados, com envolvimento de diversas áreas, onde se destacam as atuações da Engenharia de Riscos e Subscrição de Riscos, que trabalham de maneira bastante alinhada e sinérgica.
Suas atribuições possuem destaque fundamental na fase de análise e aceitação de riscos, funcionando como uma engrenagem da etapa seletiva, cujo os esforços se concentram na análise de cada um dos riscos, a fim de conhecê-los com maior profundidade possível. Já neste momento do processo, ocorre uma tomada de decisão seletiva, em que são aplicadas condições geralmente pré-estabelecidas em normativas, precificações e demais vertentes envolvidas, para que um cliente possa ser assistido pela cobertura securitária e pelo período conhecido como “vigência do seguro”.
Essa tomada de decisão, um dos pilares dos negócios do mercado securitário, está fundamentada nas informações que dependem da atuação direta da Engenharia de Riscos (ER).
A partir dos olhos atentos e treinados do engenheiro de riscos é possível agregar o conhecimento técnico sobre o risco e municiar o especialista subscritor sobre o que realmente está sendo avaliado. Trata-se de um processo que identifica, capta, analisa e classifica as principais circunstâncias de exposição e peculiaridades envolvidas nestes riscos, traduzindo-os de modo que este apanhado de informação resulte em algo efetivo para a tomada de decisão.
Contudo, a atuação da ER não está presente somente nesta etapa inicial, de conhecimento e caracterização do risco. Pelo contrário, ela pode ser acionada em diversas fases que acompanham todo o longo ciclo de uma vigência de uma apólice de seguro.
Tudo se inicia quando a empresa seguradora recebe um pedido de cotação, seja diretamente do corretor ou por meio de outro eventual canal. O primeiro passo é o encaminhamento desta solicitação à área de Subscrição, para que seja submetida ao crivo de seleção que a seguradora possua como premissas aplicáveis. É a Subscrição quem procederá com as avaliações iniciais, determinando ou não que um processo evolua para uma possível análise de aceitação. Para uma seguradora é fundamental que se tenha segurança e conhecimento do que se está garantindo. Para tanto, a Subscrição se respalda do apoio técnico da Engenharia de Riscos para proceder com os trâmites necessários em parte de sua análise, agregando com sua efetiva participação na identificação e classificação do risco.
Superadas estas etapas iniciais e resultando no efetivo interesse por continuidade da análise por parte da Subscrição em determinado risco, a ER é acionada para que um profissional especializado, engenheiro de riscos, vá até o local ao qual se pretende assegurar (ou busca securitização). Este especialista representa os olhos da seguradora neste momento, aplicando seus conhecimentos técnicos no intuito de captar todas as percepções possíveis para respaldar o subscritor.
Esta verdadeira diligência “in loco” visa se reunir com o representante do segurado, onde são solicitadas uma série de informações sobre o risco, verificadas e abordadas questões inerentes à operação e funcionamento do local, processos, caraterísticas do imóvel, equipamentos protecionais existentes, estado geral de conservação etc. Em suma, nesta ocasião, realiza-se um detalhado mapeamento do risco.
A partir do material obtido na ação anterior, o engenheiro de riscos desenvolve um relatório eminentemente técnico, que possibilitará ao subscritor se apoiar em sua efetiva tomada de decisão. O relatório de inspeção corresponde a um “raio-x” da empresa, da operação do solicitante, onde estão apontados e mapeados os riscos de exposição. Como material resultante, este documento expõe a opinião técnica do engenheiro de riscos sobre seu parecer, podendo ser de aceitação (com condicionante ou não), bem como indicar eventual recusa.
Aspectos de melhorias constatadas
Como já mencionado, o engenheiro de riscos exprime sua opinião sobre determinado risco por meio de seu parecer técnico, podendo, inclusive, apresentar uma série de recomendações técnicas que visam proporcionar melhorias relacionadas à segurança do local em análise, bem como outras questões a serem aprimoradas, e que foram identificadas durante a inspeção. Estas recomendações são sempre acompanhadas de justificativas balizadas em premissas técnicas, normativos nacionais e internacionais, além das próprias experiências de sinistros do meio securitário. Indubitavelmente, as recomendações de melhorias tratam de uma fundamental ferramenta de auxílio ao Segurado para que implemente patamares de melhorias junto ao seu bem. Jamais devem ser vistas como uma punição, tampouco desabono, pois trata-se de uma importante possibilidade de evolução.
A ação de sugerir ao Segurado possíveis pontos de melhorias é algo intrínseco ao papel do profissional mitigador de riscos. É nesse ponto que a atuação da transferência de conhecimento ganha destaque, uma vez que visa auxiliar o segurado, a partir de uma visão externa e especializada, a direcionar esforços que possibilitem um incremento de qualidade sob o aspecto de segurança física e até mesmo operacional do risco.
São inúmeros os tipos de recomendações que podem ser sugeridas após uma visita técnica da Seguradora ao local de risco. Contudo, há de se frisar que não se trata de algo previamente definido e convencionado, que possa simplesmente ser oferecido de maneira aleatória. Pelo contrário, a Seguradora somente sugestionará determinada ação de implantação baseada em aspectos, eminentemente técnicos, normatizados ou condizentes com melhores práticas de segurança. Aos atentos olhos de uma equipe técnica de uma Seguradora, vale se respaldar da conhecida máxima aplicada no conceito de gestão de riscos, em que “cada caso é um caso”, por mais semelhante que determinada atividade ou risco possa parecer.
Principais tipos de recomendações
De maneira geral, a se exemplificar alguns dos tipos de recomendações de ações de implementações junto aos riscos inspecionados, e que podem ser indicados aos segurados, destacam-se:
Plano de Emergência: este material aportará todas as informações necessárias, bem como a definição dos procedimentos a serem adotados em situações emergenciais. Deverão estar devidamente claros e formalizados todos os processos e as atividades desenvolvidas no local, áreas e equipes existentes, tipos de comunicações disponíveis e contatos emergenciais, medidas a serem tomadas etc. Para um Plano de Emergência ser considerado eficaz, devem estar roteirizadas todas as ações a serem seguidas nos mais variados e possíveis cenários ao qual o risco esteja exposto, como sinistros de incêndio, danos elétricos, vendaval, alagamento, desmoronamento, queda de aeronave etc.
Plano de Continuidade de Negócio (PCN): aqui deverão estar definidas todas as ações mínimas e necessárias para que se garanta, em uma eventual situação que impossibilite, provisoriamente, a continuidade da atividade no local, uma possível retomada imediata do funcionamento, propiciando a continuidade do negócio. Um Plano de Continuidade de Negócio não deve ser desenhado para garantir a efetividade da retomada da produção em um mesmo patamar, como antes da ocorrência do evento que levou a paralisação. Pelo contrário, deverá identificar as ações necessárias para que seja possível, num menor tempo possível, garantir a retomada da atividade, de maneira crescente até a normalização. Ressalta-se que esta ação envolve, necessariamente, uma ampla análise de todo o negócio, desde a obtenção da matéria-prima, produção e distribuição de um possível produto final ao cliente. Assim como um Plano de Emergência, o PCN deve estar pronto para atuação nos mais variáveis e possíveis cenários, como a ocorrência de uma pandemia.
Plano de Manutenção: tão fundamental e importante quanto garantir que determinado risco esteja em bom estado de conservação e uso, é assegurar que ele receba as manutenções necessárias durante sua vida útil, propiciando o alcance de seu desempenho mínimo esperado ao qual foi dimensionado. Edificação, instalações, equipamentos produtivos e protecionais, entre outros, demandam, obrigatoriamente, por recebimentos de manutenções periódicas e constantes. Um Plano de Manutenção adequado deve abordar de maneira detalhada e individualizada, todos os tipos de intervenções necessárias, bem como identificar quais períodos estas devem ocorrer. Todas as manutenções devem ser devidamente realizadas por profissionais habilitados e treinados. Os resultados destas manutenções devem ser emitidos formalmente e devidamente arquivados, tanto para acompanhamentos destas evoluções como para comprovações de efetividade de execução.
Equipamentos Protecionais Contra Incêndio: durante a realização de uma inspeção é comum que o engenheiro de riscos identifique eventuais deficiências nas quais possam impactar diretamente no perfeito funcionamento de um equipamento protecional. Em uma diligência deste tipo, todo o sistema protecional existente é analisado, desde o tipo empregado e as áreas respaldadas por tais recursos, até o tipo de funcionamento. Um simples exemplo é a existência de um sistema de hidrantes. Neste cenário, é analisada a forma de abastecimento, disponibilidade e quantidade de água, tipo e capacidade do reservatório, equipamentos auxiliares integrados nos sistemas, controles, quantidades de pontos de hidrantes, posicionamentos etc. Também ocorrem situações nas quais todo o sistema protecional se mostra adequado, no entanto, está obstruído devido ao acúmulo de mercadorias que impedem o acesso em uma situação emergencial. Ou, até mesmo, em uma determinada área da empresa pouco habitada, mas que possui relevante quantidade de produtos armazenados, como um estoque de produto acabado, mas que não conta com sensores de temperatura ou de fumaça capazes de identificar um possível foco de incêndio que se inicie no local. Ou seja, para que se verifique a efetividade de um único sistema, deve-se analisar uma série de fatores influenciadores, onde estes devem sempre caminhar em perfeita harmonia.
Formação e Treinamento de Brigada de Incêndio: tão importante quanto possuir os equipamentos protecionais contra incêndio é ter uma equipe dedicada e prontamente apta a utilizá-los quando necessário. De nada adianta ter disponível diversos tipos de equipamentos protecionais, todos eles em quantidade adequada e em perfeito estado de funcionamento, se não existir uma equipe de Brigada de Incêndio devidamente preparada para utilizá-los, da melhor maneira possível, até que chegue ao local o Corpo de Bombeiros mais próximo. Estes integrantes devem estar aptos a agir nas mais variadas situações emergenciais, como devidamente definido junto ao Plano de Emergência. Para tanto, periodicamente, deverão ser realizados testes práticos e simulações para garantir a efetividade de tal ação e a segurança de todos.
Autorização de Trabalhos Especiais – Trabalho a Quente: no dia a dia de operação das mais variadas empresas são realizadas, concomitantemente, uma infinidade de atividades relacionadas à própria produção local, manutenções, reparos etc. Com base em indicadores históricos de ocorrências de sinistros, em especial os que envolvem situações de incêndio, significativa parte foram motivados devido alguma falha de segurança durante realizações de procedimentos de “Trabalho a Quente” – este, definido como todo o processo que envolve realização de atividades de soldagem, corte, esmerilhamento, perfuração, queima ou fusões de substâncias e afins, capazes de produzir faíscas, centelhas, aquecimentos ou chamas em temperatura suficiente para incendiar vapores inflamáveis ou superfícies combustíveis. Ou seja, uma fonte de ignição a um possível incêndio. Para que seja possível a realização de uma atividade que envolva Trabalho a Quente, deve se ater a diversos outros fatores influenciadores, como o que se pretende realizar, em qual local, os tipos de materiais existentes etc. Para tanto, deve ser emitida uma permissão formal de que este tipo de atividade será realizada por profissional devidamente habilitado para tal feito, bem como supervisionada e monitorada, do início ao fim (inclusive, estendível por um período de acompanhamento após sua conclusão), garantindo o cumprimento efetivo de todas as premissas normativas que abordam tal assunto.
Política antitabagista no interior do local de risco: por mais curioso que possa parecer, estatisticamente, ainda nos dias atuais ocorrem diversos sinistros de incêndio que foram motivados por inobservância ou falta de aplicações de políticas antitabagistas junto aos riscos. Em locais onde seja permitido o tabagismo, deve, obrigatoriamente, ter um espaço devidamente definido para tal prática. Todos os cuidados necessários deverão ser tomados, de maneira a garantir este efetivo controle de risco.
Áreas Classificadas: dependendo do tipo de atividade e do que ali se produz, deve-se ter muita cautela em relação aos procedimentos de acondicionamentos e manuseios de materiais, sejam eles no estágio de matéria-prima ou até mesmo como produto final. É fundamental para a Seguradora ter pleno conhecimento sobre os tipos de produtos existentes junto aos riscos assegurados, sejam eles utilizados na produção ou na manutenção do local. Ao se inspecionar um determinado local, o engenheiro de riscos terá grande preocupação em identificar quais são os tipos de produtos ali existentes, suas formas de utilização, maneiras de armazenamento, locais etc. Também as instalações demandam por cuidados relacionados ao tipo de proteção, como existências de equipamentos elétricos localizados em zonas classificadas como de “atmosferas explosivas”, onde, indubitavelmente, o ambiente demandará por cuidados especiais.
Segurança Física: dependendo do tipo de atividade realizada no local, tal risco pode se mostrar mais ou menos atrativo ao roubo. Sob esta ótica, uma empresa que fabrica folhas de papel pode ser menos atrativa quando comparada a uma outra do ramo de componentes eletrônicos. Sob este aspecto, a Seguradora avalia o tipo de controle de acesso ao local, bem como se existem maneiras efetivas de garantir a integridade do bem, tais como vigilância especializada, sistema de CFTV com gravação de imagens ou não, apoio remoto etc.
Conforme demonstrado anteriormente, diversos pontos observados durante uma inspeção possibilitam que a Seguradora avalie, com maior profundidade e tecnicamente, se determinado risco se enquadra no seu panorama de aceitabilidade.
É a partir destas observações colhidas pelo engenheiro de riscos que o subscritor passa a ter elementos mais palpáveis para determinação desta condição de enquadramento de aceitação, tanto relacionado ao real estado em que o risco se encontra como se atrelado à eventuais condicionantes de aceitação que envolvem possíveis melhorias.
De qualquer maneira, independente do parecer obtido ao final de todos os trâmites de análise e aceitação de determinado risco, o resultado derradeiro alcançado oferece ao segurado a possibilidade de incorporar melhorias ao seu bem ou sua atividade, sejam elas em adoções de importantes práticas de gestão ou até mesmo intervenções físicas, onde muitas delas sequer estão relacionadas a significativos aportes financeiros.
Em suma, quando se torna conhecido, por todas as partes envolvidas no processo, suas responsabilidades, sejam elas cliente, corretor de seguros, subscritor e engenheiro de riscos assim como o quanto cada uma delas está disposta a assumir ações proativas, é gerada uma cadeia de sustentabilidade e perenidade do negócio, onde é alcançado uma série de benefícios, em especial para o segurado, como:
- Produtos personalizados para atender suas reais necessidades e anseios demandados;
- Conhecimento aprofundado e consciente dos riscos gerenciáveis (segurados ou não) e os não gerenciáveis;
- Garantia de uma rápida retomada e/ou continuidade do negócio, em caso de sinistros;
- Custos apropriados ao seu negócio;
- Tomada de decisão adequada de alocação dos investimentos em gestão e mitigação dos riscos;
- Valorização e melhoria na qualidade do bem.