Engenharia de Riscos - Ep. 03
Não poderia ser diferente quando se trata de projetos, obras e indústrias e empresas, independentemente de seu porte e tamanho. Todo o tempo, as pessoas são desafiadas a desempenhar suas atividades, ao mesmo tempo que estão expostas a ocorrências de possíveis condições indesejadas.
Riscos existem e não devem ser negligenciados, muito menos encarados como algo tão temível ou uma barreira intransponível. Pelo contrário. Mitigar riscos e administrá-los pode ser um sinônimo de desafio, bem como uma oportunidade para transformar e adequar algo, de forma que se torne melhor, mais eficaz, favorável e seguro. É neste ponto que entra em ação o conceito de aplicação da Gestão de Riscos (GR).
Seja qual for a atividade envolvida, para que seja possível mitigar riscos, primeiramente deve-se conhecer minuciosamente o contexto ao qual o risco está inserido. É fundamental analisar todas as variáveis que possam apresentar eventual impacto, passando, então, a mitigá-las da maneira mais adequada possível.
Com todo o avanço tecnológico e, principalmente, com a evolução das boas práticas de gestão, muitas das empresas de grande porte, sejam nacionais ou multinacionais, já possuem consolidada a imagem de um Risk Manager. Muitas vezes tal posição se faz presente por questões de compliance. Há uma preocupação cada vez maior em relação às práticas de GR. Nos últimos anos, é notável uma significativa evolução neste segmento, resultado que espelha a tendência de globalização.
Há também o movimento de empresas de menores portes despertando para a cultura da proteção. Contudo, indubitavelmente, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Muitas vezes, independentemente do tamanho da empresa ou porte do projeto, a aplicação de uma gestão de risco adequada é encarada como um custo e não como um investimento.
Um estudo encomendado pela RIMS (Risk Management Society), organização sem fins lucrativos que aborda questões mundiais de gestão de riscos, revelou que, até 2015, o Brasil estava abaixo da média da América Latina na implementação de programas de GR nas empresas. Na época, 79% das empresas brasileiras analisadas não tinham um mapa de riscos estratégicos, contra 51% da média latino-americana. Apenas 17% das empresas brasileiras afirmaram que a política de GR estava totalmente implementada no interior da empresa, contra 21% em que a GR ainda não foi sequer elaborada. Seis entre dez empresas brasileiras disseram ter um responsável pela área de gestão de riscos, contra uma média latino-americana de 77%.
Neste mesmo ano de divulgação da pesquisa, houve o trágico caso, amplamente noticiado pela mídia, do rompimento das usinas de rejeitos industriais de uma grande empresa, trazendo à tona a fragilidade de políticas mais firmes voltadas à gestão de risco, compliance e gestão de crises, prioritariamente no cenário nacional. Uma das conclusões deste referido estudo foi a de que a GR, infelizmente, ainda está mais desenvolvida no papel do que no dia a dia operacional das empresas.
Uma Gestão de Risco adequada pode ser alcançada através de uma série de esforços multidisciplinares, que vislumbram um conjunto de atividades coordenadas com o objetivo de gerenciar e controlar potenciais ameaças, lembrando que nunca se deve achar que se está preparado para tudo: há sempre o que ser mitigado, ajustado e melhorado. Isso implica no planejamento e uso dos recursos humanos e de materiais, além de boas práticas de gestão, para minimizar os riscos ou tratá-los. Mas, para funcionar de fato, a GR precisa estar no centro da cultura organizacional, com efetiva aderência de todos – desde a diretoria e a alta gerência até cada um dos colaboradores envolvidos – fazendo parte da rotina da empresa, independentemente de seu porte, assim como a adequada previsão de investimento voltado para GR no orçamento geral.
Inexiste qualquer garantia de que uma Gestão de Risco bem desenvolvida possa eliminar por completo a ocorrência de um evento indesejável. No entanto, uma GR adequada possui o papel de aportar conhecimento e qualidade ao que se pretende proteger, fornecendo os necessários insumos, os quais possibilitarão prever possíveis situações adversas, resultando em formas de se tentar controlar e mitigar riscos.
A Gestão de Riscos é algo que deve ser pautado em probabilidades de ocorrências, inclusive absorvendo experiências de eventos passados, sejam eles positivos ou negativos. Riscos devem ser mitigados com base em um conhecimento sólido, consistente e reconhecido. Para tanto, existe uma infinidade de normatizações técnicas nacionais e internacionais, estudos técnicos, e referências de boas práticas que, inclusive, passam constantemente por revisões e aperfeiçoamentos.
Com o advento da tecnologia e o avanço da matéria, Riscos podem (e devem) ser previstos, controlados e minimizados.
Não se deve entender que o papel de uma mitigação se finda ao garantir que todas as premissas técnicas, normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho ou até mesmo diretrizes do Corpo de Bombeiro estejam cumpridas. Pelo contrário, a GR deve, obrigatoriamente, ser algo contínuo e permanente, que está no dia a dia das operações de uma empresa ou de qualquer atividade. Torna-se um ciclo que demanda por constante revisitação, monitoramento e aperfeiçoamento. O ambiente tecnológico evolui e traz novas ferramentas; os negócios mudam e com a mudança podem-se agregar novos processos; nosso dia a dia e a maneira de viver se altera, com isto são experimentados outros cenários e novos riscos.
Portanto, é preciso estar atento para mitigar os possíveis riscos, sejam eles novos ou velhos conhecidos. O fato é que estes não devem ser subestimados, muito menos esquecidos. Riscos existem e devem ser encarados. O papel da Gestão de Risco deve ser a de uma ferramenta atuante, ativa e atenta aos acontecimentos. E, contudo, estar sempre pronta para agir, antes mesmo que a ameaça se mostre presente.